quinta-feira, 28 de maio de 2009

“O sétimo selo” de José Rodrigues dos Santos


Ao terminar a leitura deste último romance de José Rodrigues dos Santos ficou-me uma sensação de desconsolo e, até de desconcerto.

Sou grande apreciadora do autor enquanto jornalista e mesmo enquanto romancista. Tenho um grande apreço pelo seu apurado trabalho de investigação actualizada acerca dos temas que aborda. Acho oportuno e de grande interesse actual o tema que aborda neste romance. Contudo, fiquei com uma sensação estranha de que algo não tinha funcionado.

Em termos de estrutura formal do enredo, José Rodrigues dos Santos faz, quanto a mim, uma abordagem demasiado próxima daquela que utilizou em “A Formula de Deus”. Vejamos:

A mesma personagem principal Tomás, historiador, criptologista e professor na Universidade é contratado por “alguém” para desvendar um enigma e encontrar um amigo seu desaparecido; tal como no anterior, só que o amigo era do pai e não seu...

Depois de aceite o desafio, Tomás vê-se envolvido numa sucessão alucinante de peripécias e aventuras, envolvendo risco da própria vida; tal como no anterior...

A acompanhá-lo nessas aventuras, pelo menos em parte, está uma beldade arrebatadora; desta vez é russa, da outra era iraniana...

Depois desse imenso périplo de situações perigosas, tudo termina mais ou menos bem embora “in extremis”; tal como no outro...

No anterior Tomás tinha que gerir um grave problema pessoal no meio de toda a confusão, a doença terminal de seu pai e a sua impossibilidade em estar presente. Neste tem também de lidar com a perda progressiva de faculdades da sua mãe, incapaz de viver sozinha, levando-o a ter de tomar a opção dolorosa de a colocar numa casa de repouso.

Enquanto decorre a acção, este livro, tal como o anterior em comparação está pejado de conversas entre personagens cujo objectivo é, quase podemos dizer, meramente didático, com longas e repetidas explicações acerca de temas como o aquecimento global e suas causas, a posição dos diversos países e a escassez dos combustíveis fósseis. Pese embora a pertinência e importância inquestionável dos assuntos em causa, essas explicações, do meu ponto de vista exageradas (não é um assunto tão difícil de entender e, supostamente, o interlocutor é professor numa Universidade...) fazem com que o livro sofra quebras importantes no seu ritmo. Também isto já havia acontecido em “A fórmula de Deus” mas como as explicações aí se referiam a assuntos pouco próximos do domínio comum tal como a teoria da relatividade e outros conceitos desenvolvidos por Einstein e noções de física quântica, estas explicações eram imprescindíveis tornando-se parte integrante do enredo não parecendo maçadoras. Sem elas o romance tornar-se-ia incompreensível para uma parte razoável dos seus possíveis leitores.

Porém, apesar de parecer que, a meu ver, claro, tem alguns pontos menos positivos, recomendo, repito, recomendo a sua leitura.

Apesar de tudo é um livro que nos acorda, bruscamente, devo dizer, para problemas que, na maioria das vezes preferimos ignorar e fazer de conta que não é nada connosco.

Fazer-nos encarar de frente a perenidade de coisas que tomamos como certas e eternas é, no mínimo, assustador. É que essa escassez, esse fim anunciado, não é algo fruto da imaginação de alguém a dar conteúdo a um qualquer livro de ficção científica.

Não, é algo realmente próximo e que poderá ainda afectar-nos a nós, estes que aqui andamos agora.

Isso já é outra conversa, não é?

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