Acabei de ler o livro de José Eduardo Agualusa “As mulheres do meu pai”. Gostei embora, se calhar tivesse uma expectativa um pouco diferente dado que o último que tinha lido do autor tinha sido “O vendedor de passados” de que gostei mesmo muito. De comum, o facto de ambos voltearem em torno de memórias. Será, possivelmente, um tema recorrente nos livros do autor.
Este, desenvolve-se em dois planos distintos e paralelos. Um é real e funciona como uma espécie de preparação/estudo para o outro, o fictício. Quer o real quer a ficção desenvolvem-se nos mesmos locais. As personagens vão percorrendo a África austral, desde Angola a Moçambique, passando pela Namíbia e pela África do Sul, numa demanda das próprias raízes, numa procura da sua identidade.
Ambos os planos são contados em simultâneo, entrecruzando-se as respectivas narrativas, tornando por vezes muito ténue a fronteira entre um e outro deixando, num ou noutro momento, até a ideia de ser mais real a ficção do que a própria realidade.
O romance vai sendo narrado aleatoriamente pelas diferentes personagens, apresentando assim diversas perspectivas de um mesmo acontecimento. Por vezes não é fácil identificar de imediato o narrador daquele fragmento.
Quanto a mim um romance sobre mulheres, música e a magia de África. Aliás, África é-nos aqui apresentada de uma forma inédita, interessante mas surpreendentemente inesperada; não a África das selvas, das paisagens luxuriantes, das cores feéricas, dos cheiros intensos mas a outra, a África urbana, a das pessoas, a da música, a da poesia.
Muito bem escrito, aliás como sempre nos habituou o autor. Romance que, na minha opinião, vale a pena ler.
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