quarta-feira, 27 de maio de 2009

“O Priorado do Cifrão” de João Aguiar


Confesso que já li alguns livros de João Aguiar não tendo uma opinião uniforme em relação ao que li. De alguns gostei mesmo muito, de outros gostei menos. O que é inegável é que se tratam de livros ricos estilisticamente, que fogem aos chavões e lugares comuns daqueles que procuram best- sellers.

Quando li a sinopse deste, não resisti a comprá-lo sabendo, como já disse,(da leitura de outros livros) a capacidade do autor para a crítica aberta e escarninha.

E, tal como eu esperava, o livro revelou-se uma apreciação atrevidamente cáustica e óbvia ao livro de Dan Brown “O Código de Da Vinci”, bem como à enorme quantidade e péssima qualidade dos muitos outros que se lhe seguiram.

Embora o tema seja o da escrita e da autoria mas na sua vertente editorial, com todas as manigâncias e jogos de interesses que por aí se desenvolvem, o livro começa, obviamente, com o assassinato de um autor, num voo, seguido de mais dois em condições diversas, todos com responsabilidades nas “tramas” editoriais.

Todos também estavam dispostos a atacar um livro, best-seller internacional, que passa a mensagem de que a origem da doutrina cristã seria do tipo orgiástico.

A sua enorme aceitação deve-se a um ritmo narrativo embalador, inebriante que prende o leitor e disfarça os erros, os lugares-comuns e todos os outros defeitos.

O próprio João Aguiar consome e utiliza, para a escrita do seu livro, as estratégias narrativas dos autores em causa, de uma forma acutilante, delirante e terrivelmente corrosiva.

O livro tem uma estrutura algo complexa mas não poderia ser de outra forma para surtir o efeito pretendido.

Julgo que o autor pretende demonstrar que “embora a escrita seja um exercício de sedução”, palavras suas, é muito mais do que agarrar o leitor pela curiosidade e pelo mistério. É necessário que o leitor também pense…

Deste, gostei bastante.

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