quarta-feira, 27 de maio de 2009

“o remorso de Baltazar serapião” de Valter Hugo Mãe


Porque tenho sempre alguma curiosidade em conhecer novos escritores, sobretudo nacionais, tinha há já algum tempo em “lista de espera” o livro de Valter Hugo Mãe, prémio literário José Saramago 2007 “o remorso de Baltazar serapião”.

Confesso que a sua leitura constituiu para mim uma surpresa enorme; foi quase como se tivesse, de repente, levado um murro no estômago. Perdoem-me a metáfora deselegante mas na verdade não me ocorre nada que melhor reflicta o que senti ao lê-lo.

Não julguem que quero dizer com isto que não gostei do que li. Não, muito pelo contrário, gostei muito. Só que se trata de um livro forte e despudorado sobretudo no que concerne à condição da mulher.

O romance passa-se algures numa idade média, indefinida e é protagonizado por uma família muito pobre na qual a condição da mulher se iguala e, em alguns casos, até se apouca em relação á dos seus animais, sobretudo à de sarga a vaca da família.

Baltazar, o filho mais velho, vem a casar com uma bela donzela que cedo vê compartilhada com o seu senhor de uma forma que nunca chega a entender. Possuído pelo ciúme, também ele, Baltazar, tal como seu pai havia já feito com sua mãe, sujeita a sua mulher às maiores sevícias, estropiando-a com o objectivo de a “educar”. Acaba por se enredar em bruxarias e, finalmente, quando já nada lhe resta, surge o remorso.

É um livro que retrata uma realidade extremamente dura expressa num tipo de linguagem que o autor pretende ser uma reprodução da linguagem arcaica utilizada pelo povo.

Abre-nos uma janela para um novo modelo de escrita ao mesmo tempo que, na minha opinião, poderemos considerá-lo também uma metáfora em relação aos mais diversos tipos de violência que, ainda hoje, é exercida sobre a Mulher.

Forte motivo para reflectirmos uma vez que se celebra hoje o “Dia Internacional da Mulher” e há, por esse mundo fora situações em que as mulheres vivem numa condição tanto ou mais humilhante do que aquela que a que este romance nos transporta.


Nota: Estas resenhas não estão ordenadas pela ordem de leitura. Embora já aqui tenha comentários mais recentes do autor, este foi, de facto, o primeiro livro em prosa que li dele.

Tem também boa poesia.

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