Mais uma vez, Valter Hugo Mãe, confirma a sua excelente qualidade enquanto escritor que já havia demonstrado em “O Remorso de Baltazar Serapião”.
É um pouco menos “pesado” quer no enredo, quer na linguagem pois retrata um tempo contemporâneo.
Mantém, porém, o mesmo realismo ao desenhar as angústias, as precariedades, as ilusões, os desejos, as esperanças das personagens.
Estas, muito bem construídas e complexas são essencialmente constituídas por duas empregadas a dias e carpideiras, um emigrante de leste e um reformado idoso. Todas elas, de uma forma ou de outra, buscam ser felizes seja qual for o sinónimo que cada um encontra para a sua felicidade.
Consigo, se calhar erradamente, mas foi essa a ideia que me deu, estabelecer algumas semelhanças na forma do tratamento da mulher com “O remorso de Baltazar Serapião”; a preponderância do homem; a aceitação da mulher. Contudo existe uma diferença crucial. Aqui essa condição é-nos mostrada através da perspectiva da mulher que a aceita como um mal menor, ou até necessário.
É impossível ficar indiferente à profunda sensibilidade colocada na construção das duas personagens que protagonizam os pais do emigrante ucraniano. Chega a ser comovente.
No meio destas personagens surge um “rectângulo castanho cheio de pulgas” o cão que se chama Portugal. Se, como eu penso, se destinava, a caracterizar o país, fá-lo, sem dúvida, mas é, quanto a mim, o menos importante do livro. As personagens agarram-nos de tal forma que a metáfora perde importância.
Com um tipo de escrita muito próprio, o qual havia revelado de forma inequívoca no livro acima citado, mostra porém neste, que embora seja o seu estilo, reconhecível, facilmente identificável, é também um estilo dinâmico no sentido em que se adapta às diferentes situações.
A não perder.
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