Bem, vamos ao livro. Acabei de o ler.
Foi, para mim, uma agradável surpresa.
Pesem embora as belíssimas letras (poemas) que tem composto ao longo da sua vida, tenho (e penso que terei sempre) a ideia de um Chico Buarque músico, compositor de excelência, cantor, mas escritor, não.
Contudo, os dois livros que li dele, podem perfeitamente facultar-lhe esse epíteto.
O que li foi um texto muito bem construído quer ao nível exegético quer de estilo.
Todo o livro se desenvolve através de uma longa narrativa feita por um ancião para…
Aí, ele conta todo o percurso da sua vida (extremamente longa, tem mais de cem anos) sempre centrado no amor que sente ainda pela mulher. As personagens que se vão desenhando ao logo da extensa história do ancião são de uma precisão extrema na sua construção quer ao nível plástico quer ao nível psicológico ajudando assim a criar, por vezes, um clima de dramatismo em situações de aparência burlesca ou indefinida. Nestes casos penso que podemos encontrar bem patente a ironia própria de Chico Buarque.
Também muito interessante é verificar quão bem reproduz a desarticulação das ideias do ancião, conseguindo contudo uma narrativa perfeitamente articulada que, por isso mesmo, vai prendendo irremediavelmente o leitor. Expondo um enredo ora com factos verídicos, ora omissos e intuídos nas entrelinhas; ora irónico, ora dramático, consegue, além de um excelente romance, ilustrar ainda costumes de época sem que aparente prender-se com tais temas que seriam sempre transversais, quiçá supérfluos.
Sem dúvida a ler. Ainda por cima é pequenino, pesa pouco para levar para a praia.
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