segunda-feira, 15 de junho de 2009

“O Ano de 1993” de José Saramago


Li hoje o livro referido que foi para mim uma enorme surpresa. É um livro relativamente pequeno, tem 120 páginas, uma boa parte ocupada com belíssimas ilustrações de Rogério Ribeiro. É um livro lindíssimo em todos os aspectos.

Quando me refiro ao facto de ter constituído uma surpresa, tenho de mencionar alguns aspectos. É o primeiro livro de Saramago que leio neste formato algo dúbio em termos de classificação formal.

Trata-se de poesia?

Pode ser uma vez que a sua escrita está organizada em forma versicular. Além disso utiliza abundantemente, para se exprimir, a metáfora, a alusão a um a realidade que apenas a poesia contempla e o poeta sabe descrever, a evocação, a alegoria…

Contudo, é um livro narrativo pois há uma história que se desenrola perante os nossos olhos e se vai adensando até atingir um ponto alto, o seu clímax.

Essa “narrativa” é, na minha opinião, nitidamente do âmbito da ficção científica, mesmo profética. Talvez até, quem sabe, com alguma influência de George Orwell e o seu “1948”…

Julgo que em alguns momentos podemos encontrar laivos de crónica. Aqui e ali um tom algo doutrinário e, talvez subjacente, uma tendência edificante. É subtil, mas está lá.

Bom, passemos a classificação formal, para mim o menos importante mas agradável de analisar, e ficamos com o quê?

Com um livro altamente alegórico, fantasmagórico até, através do qual podemos inferir que trata de formas de opressão, de resistência lúcida a essa opressão, e também de alguma pedagogia política.

Mas podemos também ignorar isso tudo e deliciarmo-nos apenas com páginas estupendas de uma escrita perturbadora, enigmática e fascinante e apreciar tão-somente a beleza das palavras.

Ou seja: é um livro que nos leva a vacilar na sua interpretação pela quantidade de caminhos que nos deixa em aberto.

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