Não podia ser mais a propósito. Em dia de Santo António, Mário de Carvalho presenteou-me, na sua escrita de tal modo versátil que é difícil de caracterizar, com um conjunto de episódios passados no tal Beco que se situa, não se sabe muito bem, se ainda em Alfama se já na Mouraria.
Com um tipo de escrita muito bem-humorada vai desenrolando episódios no mínimo insólitos e efabulados (escanifobéticos!) que vão ocorrendo naquele Beco com as suas gentes.
Utiliza para tal a linguagem típica e picaresca dos habitantes do bairro, eles próprios fruto de uma colorida imaginação mas que contêm na sua génese as características próprias dos naturais de um bairro típico lisboeta.
Gostei muito. De leitura fácil, é, no entanto, muito agradável e, literáriamente de qualidade.
Curioso o epílogo em que o autor, enquanto autor, recebe em sua casa uma delegação de moradores do Beco pedindo-lhe para continuar a contar os muitos episódios que faltam ainda.
E aqui o autor responde: “ – Meus caros, vejam lá se compreendem uma coisa. Um autor tem que se defender, estão a perceber? Eu cá fiz estas histórias porque simpatizo convosco, mas não podem exigir-me muito mais……… É que isto da literatura, meus amigos, tem os seus pergaminhos, a sua dignidade: A-dignidade-do-discurso-literário. …. Sabem o que ganho com isto, sabem? Pois bem: vão-me chamar um escritor menor, vão-me acusar de estar para aqui a fazer literatura de miuçalha, de facilidade, de pechisbeque, de cutiliquê, literatura patchuli, literatura pataqueira, hã? E se calhar até lhes dou razão. Só que eu não tenho culpa que vocês me tenham assaltado os sonhos…”
Interessante, não? Este descritivo dos tipos literários. Esta divisão entre literatura maior ou menor conforme o tema que nos assalta os sonhos…
Este livro é um espectáculo parabéns Mário de Carvalho
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